TERAPIA ARTÍSTICA - OPINIÕES DE MÉDICOS
(Entrevista feita por Alice Martins, extraída do Boletim AURORA 8, de 12/02 - revisão de V.W.Setzer)

Bernardo Kaliks
Médico Antroposófico. Clínico geral com formação em neurologia e medicina interna.

O senhor indica terapia artística (TA) para seus pacientes?

Indico, principalmente para pacientes com doenças crônicas e destes especialmente para os pacientes com câncer, quadros de esclerose e doenças auto-imunes.

Como o senhor vê a atuação da TA?

Minha impressão pessoal é que a TA pode agir em três níveis. Um nível mais perceptivo, onde o paciente, através dela, relaciona-se com um novo conteúdo para sua alma, com o qual o paciente aprende acolocar-se de um modo diferente no mundo. Isso, no entanto, só é possível se o terapeuta é experiente e consegue captar a necessidade do paciente. Um segundo nível éaquele em que a terapia artística pode ser integrada com o trabalho biográfico e ambos reciprocamente se enriquecem enormemente. Aí a TA torna-se um instrumento para mobilizar conteúdos mais profundos no paciente e com isso influenciar a evolução do tratamento. O terceiro nível, o mais específico da terapia artística, é onde ela é utilizada como instrumento de influência clara no estado orgânico do paciente. Por exemplo, num quadro de esclerose, por meio da terapia artística, na medida em que o paciente acorda em si um conteúdo novo, ele movimenta a sua vitalidade e isso pode atuar decisivamente no quadro patológico. A atuação depende principalmente da experiência do terapeuta e, por ser uma terapia relativamente nova, corre-se o risco de ser desacreditada se um terapeuta inexperiente, sem apoio ou assessoria, lidar com o paciente de forma inadequada. A terapia artística não depende só de uma técnica por parte do terapeuta, mas da sua maturidade e do envolvimento que ele tem no processo com o paciente.

Quando o senhor recomenda a TA, como os pacientes recebem a indicação?

Primeiro, esta é uma questão de ser, como já disse, um tipo de terapia ainda pouco conhecida. Segundo, para muitos pacientes, isso representa um ônus financeiro extra o que faz com que muitas pessoas resistam a esse tipo de tratamento. Todavia, quando se submetem a ele, os resultados são muito favoráveis

Samir W. Rahme
Médico Antroposófico e Clínico Geral

A Medicina Antroposófica atua reeducando o organismo, tanto a nível físico quanto anímico. Mas o grande processo de percepção e transformação é dado pela atividade artística terapêutica constante. A TA atua de maneira complementar ao tratamento médico e faz com que a pessoa acorde para o seu autodesenvolvimento. Em muitos casos tenho dado preferência a um encaminhamento terapêutico que seja artístico, porque já vivemos numa época totalmente neurosensorial. As pessoas estão precisando muito da vivência, o que na verdade é a autovivência. Fui aluno durante muitos anos da D. Ada Yens (1921-1994, precursora da TA no Brasil), a quem devo muito em relação ao meu desenvolvimento, principalmente na questão da minha percepção”.

Moacir Amaral
Médico e Terapeuta. Membro da Soc. Bras. de Medicina Antroposófica e Membro do Colégio Internacional de Terapeutas

A TA tem uma importância significativa na minha prática médica, e tenho indicado muitos clientes para o trabalho artístico terapêutico. Hoje atendo principalmente dentro da clínica dita psiquiátrica, lidando com pacientes em estado depressivo, pacientes ansiosos e em pânico. Pacientes que oscilam entre um estado depressivo e um estado maníaco. Pacientes com formação egoica fragilizada, personalidade fragmentada, e até aqueles em que o ego se esfacelou, no chamado surto psicótico. Nessas situações a TA tem-se mostrado de imenso valor curador, aquilo que realmente ajuda o paciente a caminhar em direção a si mesmo. Construindo ou fortificando suas estruturas de personalidade, necessárias à organização da sua vida, com suas estratégias básicas de sobrevivência e convivência.

Muitos de meus pacientes necessitam medicamentos alopáticos e, no meu entender, os alopáticos têm uma ação de suporte e estruturação "de fora pra dentro" semelhante à função do gesso numa fratura óssea; o gesso não cura nada, apenas dá o suporte imobilizador e formador, a partir de "fora", permitindo que o osso cicatrize a partir de "dentro" pelas forças vitais e formativas do próprio organismo. Estas forças são intensificadas pela medicação antroposófica e homeopática, e também pela TA, por isso podemos afirmar que esta é curadora. Lembrando que a TA, por exigir a ação do paciente mobiliza seu eer essencial, sua presença estruturadora a partir das profundezas inconscientes para a formação da Alma da Consciência, a verdadeira estrutura curadora a partir de "dentro". Tenho entendido as doenças como crises a serviço da Alma da Consciência, e a TA é um importante coadjuvante nesse processo. Recomendo mesmo.

Luiz Fernando de Carvalho
Médico antroposófico. Clínico geral e Pediatra.

Vejo a TA fundamentada na Antroposofia como uma outra via de promoção da cura do paciente, além da via medicamentosa. Médico e terapeuta artístico em conjunto visam despertar no paciente as forças curativas que estão desequilibradas no organismo doente. Basicamente, qualquer tratamento antroposófico teria uma grande colaboração por parte da TA, e podemos observar o processo evolutivo do paciente em todos os casos onde isto acontece. O próprio paciente dá-se conta dos resultados àmedida que vai conhecendo-se mais.

Derblai Rogério Sebben
Médico Antroposófico e Clínico Geral

Desde minha formação em Medicina de orientação antroposófica, entrei em contato com a terapia artística, tanto acompanhando o atendimento dado aos pacientes, como recebendo os cuidados de uma terapeuta, enquanto fazia meu estágio na Clínica Tobias. Isso foi no início de 1991; desde então procuro estar desenvolvendo uma atividade artística, ou mesmo fazendo TA. Por que? Enquanto faço TA mantenho-me mais atento. Fico mais ligado às coisas como realmente são. A observação melhora. Consigo ter mais interesse pelas coisas ao meu redor. Atenção e interesse me mantêm aberto para a vida. No mínimo isso já seria um bom motivo para que todos praticassem TA.

Quando quero mobilizar forças de vontade nos meus pacientes, quando quero que as pessoas se abram para a vida, passem a viver com a realidade, com aquilo que está ao redor delas, eu indico a TA.


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