Comunidade de Cristãos

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A Comunidade de Cristãos

Cada vez mais cresce na humanidade o impulso para a individualidade e a liberdade. Para isso a humanidade trilhou por algum tempo um caminho que a afastou do divino, do espiritual. Mas na nossa época cresce, sempre mais, o impulso da procura de uma nova espiritualidade, agora como individualidades livres.

O impulso do Cristo é fortalecer a individualidade em cada um de nós, nos levando à liberdade e à responsabilidade, mas ao mesmo tempo superando as forças que nos separam do divino, que nos separam do outro, que nos separam da natureza, para encontrar uma nova espiritualidade, que nos ligue com o divino, nos ligue com o outro, nos ligue com a natureza, em liberdade e responsabilidade. Isto é superar o egoísmo pela força do amor. Servir ao Cristo neste sentido é a meta da Comunidade de Cristãos.

Todos nós estamos a caminho, no caminho de nos desenvolvermos, de desenvolver sempre mais a qualidade humana em nós, nos tornarmos cada vez mais verdadeiramente Homens.

Esta é uma caminhada bela, mas também árdua. De vez em quando precisamos encontrar uma fonte, uma fonte de água cristalina para beber e nos revigorar, ganhar novas forças para seguir o nosso caminho. Nem sempre estas forças brotam ao lado do caminho. Muitas vezes é necessário cavar um poço para encontrar a fonte.

A Comunidade de Cristãos quer ser um poço espiritual, cavado e cuidado por aqueles que assumem esta tarefa, para que se encontre a fonte espiritual da força do Cristo. E cada peregrino que tem sede e procura este poço poderá beber desta água da Sua vida.

 

Como surgiu a Comunidade de Cristãos?

Depois da primeira guerra mundial um grupo de jovens estudantes e teólogos procurava uma nova forma para uma vida religiosa cristã. Eles sentiam a falta de uma religiosidade mais profunda e de uma liberdade no relacionamento com Deus.

Na Antroposofia de Rudolf Steiner encontraram um caminho para compreender o cristianismo e dar um novo conteúdo à vida religiosa. Com a sua ajuda, em 1922 foi fundada a Comunidade de Cristãos.

Desde então ela se expandiu, formando comunidades onde se encontram pessoas que queiram formar, desta maneira, uma vida religiosa. Hoje existem comunidades em muitos países e continentes. No Brasil ela atua desde 1960.

 

Celebrações Cúlticas

Os sacramentos que se desenvolveram na história do cristianismo são celebrados de uma forma renovada.

Uma comunidade forma algo como um cálice, onde, pelos processos dos sacramentos, as forças e os seres espirituais podem atuar aqui na terra entre nós, nos preenchendo de sua graça.

As celebrações cúlticas acompanham a biografia do ser humano:

 

Liberdade espiritual

Almejamos a liberdade em tudo o que pensamos. Isto ocorre tanto para os sacerdotes em respeito ao que eles ensinam, quanto para os membros em relação ao que estes reconhecem como verdade.

Isto tem a consequência que não faz sentido celebrar ou participar de um culto se nele não reconhecemos algo em princípio verdadeiro.

 

Membros

Um adulto que pela vivência dos sacramentos e da vida comunitária sente o impulso de assumir uma responsabilidade pela existência da Comunidade de Cristãos, pode se tornar um membro dela.

Para que a Comunidade de Cristãos exista é necessário que pessoas se sintam responsáveis pelo seu conteúdo espiritual, pela sua vida social, pela sua base financeira.

 

Finanças

A Comunidade de Cristãos é mantida por doações de seus membros e amigos.

 

Antroposofia e Comunidade de Cristãos

Quando o tronco de uma árvore é serrado transversalmente, podemos observar que ela formou anéis de crescimento. Partindo do centro do caule até a periferia na casca, podemos ver anéis escuros e claros alternadamente. É possível determinar a idade da árvore contando esses anéis de crescimento. Um par, um anel escuro e um claro, corresponde a um ano. O anel escuro se formou num inverno e o claro num verão. O anel escuro é mais fino e a madeira mais dura pois a árvore cresce bem devagar no inverno. O anel claro é mais largo e a madeira é mais macia pois a árvore cresce rápida no verão. A madeira dura e escura dá a estabilidade para a árvore. A madeira macia e clara proporciona o crescimento. E assim a árvore se desenvolve no ritmo das estações do ano. No inverno ela forma a estabilidade, no verão ela cresce para o céu.

Esse processo de desenvolvimento de uma árvore pode se tornar uma imagem para o desenvolvimento da nossa alma, para a nossa procura de um caminho que nos liga sempre mais ao âmbito espiritual, ao divino.

Nós podemos ver dois caminhos distintos para a alma ligar-se ao âmbito espiritual. Um deles é o caminho   religioso, o caminho que procuramos trilhar na Comunidade de Cristãos. O outro é o caminho de uma ciência espiritual, o caminho que podemos seguir na Antroposofia.

Esses dois caminhos têm pontos de partidas diferentes e têm qualidades diferentes.

O caminho que trilhamos na Comunidade de Cristãos tem o seu ponto de partida na força do querer e do sentir de cada um de nós. Por isso, denominamos o nosso culto um ato: o Ato de Consagração do Homem. E no ofertório dizemos: “A ti, Divino Fundamento do mundo, volte-se o meu querer”. É o nosso querer que oferecemos ao Divino. E a fonte desse querer é a vivência da presença do Cristo, é o sentir que se une com o Cristo. Partindo desse querer que sacrificamos ao Divino, que flui de um sentir que se une ao Cristo, podemos almejar um pensar que viva na vida do Espírito Santo.

Temos como ponto de partida um querer e um sentir e almejamos um pensar. E nessa vivência religiosa formamos uma consciência da realidade espiritual no momento.

Essa consciência forma-se por um presságio da presença, da realidade do espiritual, antes de poder-mos reconhecê-lo. Essa vivência é descrita na epístola do Advento:

“ Contemplativas tornam-se nossas almas

Frente ao altar;

O Ato de Consagração do Homem

Torna-se presságio espiritual. ”

O caminho da Antroposofia tem o seu ponto de partida no pensar. O primeiro passo desse caminho é o estudo sobre o espiritual. A partir do estudo sobre o mundo espiritual, usando o nosso pensar podemos, cada vez mais, formar um conhecimento do espiritual. Mas esse é o primeiro passo. Partindo do pensar, o caminho do conhecimento espiritual almeja à vivência do espiritual, para que o conhecimento não fique intelectual e frio, mas se aqueça pela força do sentir e desenvolva a potência para mudar o nosso querer.

Por mais distintos que sejam esses dois caminhos - o caminho do conhecimento espiritual da Antroposofia e o caminho da consciência espiritual da Comunidade de Cristãos - eles têm um relacionamento recíproco. Podemos estuda-lo no Calendário da Alma, escrito por Rudolf Steiner. Para cada semana do ano ele deu um verso. Com esses 52 versos podemos reconhecer e desenvolver uma ligação da alma com o ritmo da natureza no decorrer do ano. Podemos aprender que as qualidades das estações do ano e a metamorfose que acontece na natureza e se repete de ano para ano tem a ver com as qualidades que precisamos para desenvolver nossa alma. E como o verão, o outono, o inverno e a primavera têm qualidades diferentes e formam o ritmo das estações do ano, assim a alma necessita de um ritmo de diferentes qualidades para se desenvolver.

O Calendário da Alma de Rudolf Steiner descreve que a qualidade da alma no inverno é muito diferente da qualidade da alma no verão. No inverno, a alma desenvolve a força do pensar. No verão, o pensar torna-se impotente e é substituído pelo presságio. No inverno temos a possibilidade maior de seguir um caminho de conhecimento espiritual; no verão podemos mais vivenciar o espiritual e formar uma consciência espiritual. O caminho do inverno tem mais a qualidade do caminho da Antroposofia. O caminho do verão tem mais a qualidade de um caminho religioso, como tentamos seguir na Comunidade de Cristãos.

Mas, como as árvores não se desenvolvem só no verão ou só no inverno, mas no ritmo das estações do ano, também nós precisamos das duas qualidades para nos desenvolvermos. A força do pensar, do conhecimento espiritual, é como o anel escuro de uma árvore que, com a sua madeira dura, pode dar estabilidade para a alma. A vivência religiosa, o presságio, a consciência espiritual, é como o anel claro de uma árvore que, com a sua madeira macia, nos possibilita crescer às alturas. E assim, de ano para ano, formando um anel depois do outro, no ritmo de conhecimento com o pensar e consciência com o presságio, a alma pode, enraizada na terra, crescer aos céus.

Para mais informações, acesse o site www.comunidade-de-cristaos.org.br

Texto por João Torunsky