Materialismo

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  • O materialismo jamais pode oferecer uma explicação satisfatória do mundo, pois qualquer tentativa de explicar algo deve começar com a formação de pensamentos sobre os fenômenos do mundo. O materialismo começa portanto com o pensamento acerca da matéria ou dos processos materiais. Assim, já de início, tem dois conjuntos diferentes de fatos diante de si: o mundo material e os pensamentos sobre ele. O materialista procura tornar os últimos inteligíveis concebendo-os como processos puramente materiais. Ele acredita que o pensar surge no cérebro, precisamente da mesma maneira que a digestão passa-se em órgãos dos animais. Assim como ele atribui à matéria efeitos mecânicos e orgânicos, confere-lhe também, em certas circunstâncias, a capacidade de pensar. Ele não percebe que, assim fazendo, simplesmente está deslocando o problema de um local para outro. Ao invés de atribuir a si próprio a capacidade de pensar, ele a atribui à matéria. E assim ele retorna ao seu ponto de partida. Como a matéria chega a pensar sobre sua própria natureza? Por que ela simplesmente não se satisfaz consigo própria e fica satisfeita apenas em existir? O materialista desviou o olhar do sujeito nítido, seu próprio Eu, para admitir algo bastante vago e indefinido. Aqui o antigo enigma encontra-o novamente. A concepção materialista do mundo não consegue solucionar o problema; ela só pode deslocá-lo de um local para outro.
    Fonte: GA 4, cap. II “O impulso fundamental para a ciência”, p. 27. Rev. VWS.
  • Existem pessoas cuja concepção é de que o sistema nervoso, por ser um sistema nervoso, como por um passe de mágica produz pensamentos. Nesse caso, os pensamentos seriam naturalmente produtos determinados, como por exemplo uma chama que arde devido ao combustível, ou seja, não se poderia falar em liberdade. No entanto, essas pessoas já se contradizem pelo simples fato de falarem. Já relatei muitas vezes o seguinte fato: eu tinha um amigo de juventude que num determinado período estava tomado por um fanatismo que o levou a ter um modo de pensar bastante materialista. Ele dizia então: “Quando eu ando, meus nervos cerebrais estão permeados de certas causas que produzem o efeitos do andar.” Isso podia provocar longas discussões com esse amigo. Certa vez eu lhe disse por fim: “Pois bem, você costuma dizer ‘eu ando’. Por que você não diz que é seu cérebro que anda? Se você realmente acreditasse em sua teoria jamais diria: ‘eu ando, eu pego’, mas ‘meu cérebro pega, meu cérebro anda’. Então, por que você mente?”
    Fonte: GA 235, palestra de 23/2/1924, p. 30. [Este parágrafo segue-se ao citado acima começando por “Justamente em minha Filosofia da Liberdade”.]
  • No presente, vivemos a necessidade de termos que trabalhar para sair desta onda materialista e reencontrar o caminho para o espírito, que, em antigas épocas culturais, era conhecido das pessoas, mas que, em tempos passados, foi trilhado de um modo mais ou menos instintivo, inconsciente. Esse caminho foi perdido para que a humanidade pudesse buscá-lo a partir do seu próprio impulso, de sua própria liberdade; agora ele deve ser procurado conscientemente.
    Fonte: GA 296, palestra de 15/8/1919, p. 67. Revisão: VWS (sem cotejo com o original). Col. RYS.
  • [O darwinismo] só acumulou observações, ligando-as a conceitos pobremente elaborados. Essa direção científica é algo que nos mostra muito nitidamente o processo gradual de extinção. No cérebro do ser humano está um membro em ressecação. É o membro que trabalha hoje na ciência.
    Fonte: GA 112, palestra de 5/7/1909, p. 207.
  • Numa determinada época do século XIX surge a cosmovisão materialista. Esta cosmovisão tem interesses – que se desviam do ser humano – que desenvolvem nos educadores uma imensa indiferença em relação às emoções anímicas íntimas do ser humano a ser educado.
    Fonte: GA 308, palestra de 8/4/1924, p. 18.

Vivemos na era do materialismo. Devido ao destino, o que acontece em nosso redor, em nós mesmos, encontra-se por um lado sob o signo do materialismo, e por outro do intelectualismo que, por enquanto, está espalhado por toda parte. [...] É preciso conscientizar-se quão intensamente o ser humano está hoje sob a influência dessas duas correntes da época. Pois é quase impossível subtrair-se dessas correntes da época, do intelectualismo e do materialismo, assim como é impossível, sem guarda-chuva, não se molhar quando chove. Elas existem em toda nossa volta.
[...] Não conseguimos aprender determinadas coisas que temos de aprender, se não o fizermos no sentido do materialismo. Como é que hoje em dia alguém quer tornar-se médico, se junto não quiser ‘consumir’ o materialismo! Não será possível se ele não quiser levar junto o materialismo; naturalmente ele terá que fazê-lo. Se ele não quiser levar junto o materialismo, ele não poderá ser um verdadeiro médico no sentido dos tempos atuais. Continuamente estamos expostos a isso.

Wir leben in der Zeit des Materialismus. Dasjenige, was schicksalsmässig sich um uns, in uns abspielt, steht ja alles im Zeichen dieses Materialismus auf der eine Seite und des zunächst überallhin verstreuten Intellecktualismus auf der anderen Seite. […] Man muss sich bewusst warden, wie stark heute unter dem Einfluss dieser beiden Zeitströmmungen der Mensch steht. Denn es ist fast unmöglich, sich diesen Zeitströmungen des Intellektualismus und des Materialismus zu entiehen, wie es unmöglich ist, ohne Regenschirm, wenn es regent, nicht nass zu werden. Es ist eben überall um uns herum da.
[…] Wir können gewisse dingen nicht lernen, die wir lernen sollen, wenn wir sie nicht im Sinne des Materialismus lernen. Wie soll heute einer Artzt werden, wenn er nicht den Materialismus dabei ‘verzehren’will! Er kann já nicht anders, als den Materialismus mitnehmen; er muss es selbstverständlich tun. Und wenn er eben nicht den Materialismus mitnehmen will, so kann er im Sinne der heutigen Zeit nicht ein wirklicher Artz warden. Also wir sind já dem fortwährend ausgesetzt.

Fonte: GA 237, palestra de 4/8/1924, p. 152. Trad. SALS.

Vejam, isso vem do fato de o materialismo ser verdadeiro, como eu já afirmei muitas vezes. O materialismo não está errado, ele tem razão! Esta é a causa. O antropósofo deveria aprender especialmente que o materialismo está correto. Contudo, ele deveria aprendê-lo do seguinte modo: o materialismo tem razão, mas vale somente para a corporalidade física. As pessoas materialistas conhecem apenas a corporalidade física, ou ao menos acreditam conhecê-la. O engano é este; ele não se encontra no materialismo. Quando se estuda de modo materialista anatomia, fisiologia ou a vida prática, conhece-se a verdade; ela, todavia, só tem validade no âmbito físico. A partir do âmago da natureza humana é preciso confessar que em seu próprio âmbito o materialismo tem razão, e que o aspecto mais brilhante dos tempos mais recentes é o fato de se ter encontrado a veracidade no campo do materialismo.

Sehen Sie, es kommt daher, dass der Materialismum eben Wahr ist - was ich schon öfter gesagt habe –, dass der Materialismus nicht unrecht hat, sondern recht hat! Davon kommt es. Und der Anthroposoph sollte auf eine besondere Art lernen, dass der Materialismus recht hat. Er sollte es nämlich auf die Weise lernen: dass der Materialismus recht hat, aber nur für die physische Leiblichkeit gilt. Die anderen Menschen, die Materiasliten sind, die kennen nur die physische Leiblichkeit, oder glauben sie wenigstens zu kennen. Das ist der Irrtum, nicht im Materialismus liegt der Irrtum. Wenn man auf materialistische Art Anatomie, Physiologie oder das praktische Leben kennenlernt, so lernt man die Wahrheit kennen, aber sie gilt nur für das Physische. Und dieses Geständnis muss ganz aus dem Innersten des Menschenwesens heraus gemacht werden: dass der Materialismus recht hat auf seinem Gebiete, und dass es gerade das Glänzende der neueren Zeit ist, das Richtige auf dem Gebiete des Materialismus gefunden zu haben.

Fonte: GA 238, palestra de 4/8/1924, p. 155. Trad. SALS.

O materialismo penetrou primeiro na vida religiosa. O materialismo é muito, mas muito menos perigoso para o desenvolvimento da humanidade em relação aos fatos científicos exteriores, do que em relação à concepção dos segredos religiosos.

Der Materialismus ist zuerst eingedrungen in das religiöse Leben. Viel, viel weniger gefährlich für die geistige Entwickelung der Menschheit ist der Materialismus in bezug auf die äußeren naturwissenschaftlichen Tatsachen als in bezug auf die Auffassung der religiösen Geheimnisse.

Fonte: GA 103, palestra de 18/5/1908, p. 16. Trad. VWS, rev. SALS.

O pensar materialista retirou dos seres humanos, em alto grau, a capacidade de pensar em conceitos livres de sensorialidade. É preciso esforçar-se para pensar esses conceitos, que na realidade sensorial exterior jamais existem de maneira perfeita, mas apenas aproximada, por exemplo o conceito de circunferência. Uma circunferência perfeita não existe em lugar algum; ela somente pode ser pensada. No entanto, todas as formas redondas têm por base, como sua lei, essa circunferência pensada. Ou se pode pensar em um alto ideal moral; também este, em sua perfeição, não pode ser realizado plenamente por nenhum ser humano mas, como lei, fundamenta muitas ações humanas. Ninguém progride em um desenvolvimento esotérico se não percebe todo o significado, para a vida, dessa assim chamada abstração, e enriquece sua alma com a representação mental correspondente.

Das materialistische Denken hat den Menschen in hohem Grade die Fähigkeit genommen, in sinnlichkeitsfreien Begriffen zu denken. Man muss sich bemühen entweder solche Begriffe recht oft zu denken, welche in der äusseren sinnlichen Wirklichkeit niemals vollkommen, sondern nur annähernd vorhanden sind, zum Beispiel den Begriff des Kreises. Ein vollkommener Kreis ist nirgends vorhanden, er kann nur gedacht werden, aber allen kerisförmigen Gebilden liegt dieser gedachte Kreis als ihr Gesetz zugrunde. Oder man kann ein hohes sittliches Ideal denken; auch dieses kann in seiner Vollkommenheit von keinem Menschen ganz verwirklicht werden, aber es liegt vielen Taten der Menschen zugrunde als ihr Gesetz. Niemand kommt in einer esoterichen Entwicklung vorwärts, der nicht die ganze Bedeutung dieses sogenannten Abstrakten für das leben einsieht und seine Seele mit den entsprechenden Vorstellung bereichert.

Fonte: GA 245, Cap. Weitere Regeln in Fortsetzung der “Allgemeine Anforderungen” (Regras adicionais na continuação dos “pre-requisitos gerais”), p. 25. Trad. VWS; rev.SALS.

O trágico de nossa época orientada pelo materialismo é que, do ponto de vista exterior, ela descobre muitos fatos físicos, mas não obtém o seu relacionamento, que está no espiritual. O conhecimento dessa época dirige todos os olhares para o físico; porém, falta-lhe o conhecimento do significado do físico, do material. Precisamente o significado do material não pode ser compreendido pela ciência orientada pelo materialismo. A pesquisa do material sem um senso para o espiritual, que ilumina o material, é como ficar tateando em um quarto escuro. A ciência do espiritual mostrará, em tudo, precisamente a atuação do espírito no físico. Quando se trabalha nessa direção, não se idolatra um sonho místico como sendo o espírito, porém seguir-se-á o espírito em todas as atividades do mundo material. Pois somente se cultiva um conhecimento verdadeiro, quando se reconhece o espírito como o que cria a matéria em toda parte; não quando, como místico, se adora um espírito abstrato entronado no mundo da fantasia, e de resto se vê tudo o que é material inserido numa existência universal sem espírito.

Es ist das Tragische unserer materialistisch orientierten Zeit, dass sie äusserlich angesehen viele physische Tatsachen entdeckt, aber deren Zusammenhang nicht hat, der im Geistigen liegt. Die Erkenntnis dieser Zeit richtet alle Blicke auf das Physische; aber es fehlt ihr die Einsicht in die Bedeutung des Physischen, des Materiellen. Von der materialistisch orientierten Wissenschaft kann gerade die Bedeutung des Materiellen nicht durchschaut werden. Die Erforschung des Materiellen ohne Sinn für das Geistige, das das Materielle erst beleuchtet, ist wie das Herumtasten in einem finsteren Zimmer. Die Wissenschaft vom Spirituellen wird gerade das Hereinwirken des Geistes in das Physische überall zeigen. Wenn in dieser Richtung die Erkenntnis sich betätigt, wird man nicht ein mystisch Erträumtes als Geist anbeten, sondern man wird den Geist verfolgen in alle einzelnen Betätigungen innerhalb der materiellen Welt. Denn nur, wenn man den Geist als den schöpferischen, als die Materie überall schaffenden erkennt, pflegt man wahre Erkenntnis; nicht, wenn man als Mystiker einem im Wolkenkuckucksheim thronenden abstrakten Geist anbetet und im übrigen alles Materielle in einem ungeistigen Weltensein erblickt.

Fonte: GA 305, palestra de 19/8/1922, p. 65. Trad. VWS; rev. SALS.
  • O que é [aquilo que era denominado de] Brahma em seu estado puro? Inspirando e expirando o ar, a pessoa materialista imagina estar inspirando só oxigênio. Isso, porém, é um engano. Com cada porção de ar inspiramos e expiramos o próprio espírito que vive nesse ar que respiramos, entrando e saindo de nós. Porém, do ponto de vista da antiga clarividência, isso não se parece com o que o materialista vê, e que constitui apenas um mero preconceito de sua parte. Os antigos clarividentes tinham consciência de que o que estava sendo inspirado era o elemento etérico do espírito, Brahma, a fonte da vida. Assim como hoje se acredita que a vida provenha do oxigênio do ar, o ser humano antigo sabia que a vida provém de Brahma, e que ele próprio, ser humano, vive à medida que o assimila. O Brahma puríssimo é a razão da existência de nossa própria vida.
    Fonte: GA 139, palestra de 19/9/12, pp. 88-89.
  • Observando a cultura atual [...] podemos dizer o seguinte: tudo se tornou mecanizado; na verdade, nossa cultura materialista venera apenas os mecanismos, se bem que as pessoas nao chamam isso de orar ou venerar. Porém, as forças das almas que antigamente eram dirigidas às entidades espirituais são, hoje, orientadas para as máquinas e os mecanismos, sendo-lhes dedicada uma atenção que outrora certamente era dedicada aos deuses. Isso ocorre principalmente com relação à ciência, que nem mesmo sabe como é fraca sua ligação com a realidade, por um lado, e com a verdadeira lógica, por outro. [...] É justamente essa insuficiência da ciência exterior, esse seu elemento irreal e ilógico, esse ufanismo sem ao menos suspeitar de sua verdadeira situação, que paulatinamente fará surgir na alma do ser humano a reação mais nobre, o anseio pelo espiritual em nosso tempo.
    Fonte: GA 139, palestra de 4/9/12, p. 164-165.
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