Meditação

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  • Nos últimos séculos, o ser humano habituou-se tanto a apenas reproduzir o mundo exterior que nem ao menos chega a se tornar interiormente consciente da própria possibilidade de formar livremente representações mentais, a partir da própria via interior. Chama-se ‘meditar’ a formação de tais representações mentais tomadas da vida interior; é compenetrar a própria consciência com representações mentais que não provenham da natureza exterior, mas sim do interior, prestando particular atenção àquela força que suscita tais representações.
    Fonte: GA 234, palestra de 20/1/1924, p. 37. Col. RYS.
  • Um bom preparo para a compreensão do conhecimento espiritual pode ser o fortalecimento, repetidamente vivenciado, que é trazido pelo seguinte conteúdo anímico: “Enquanto penso, sinto-me ligado ao fluxo dos acontecimentos cósmicos.” O importante é muito menos o valor cognitivo abstrato desse pensamento do que o fato de ser frequentemente experimentado na alma o efeito revigorante vivenciado quando tal pensamento flui com força pela vida interior, ao se expandir na vida anímica qual um ar vital espiritual. Não se trata apenas do conhecimento daquilo que jaz em tal pensamento, mas da vivência. O conteúdo é conhecido quando esteve uma vez presente na alma com força persuasiva suficiente; mas se o pensamento há de trazer frutos para a compreensão do mundo espiritual, dos seus seres e fatos, deve ser reanimado na alma depois de ter sido compreendido. A alma deve preencher-se com ele cada vez novamente, só admitindo sua presença e excluindo outros pensamentos, sensações, recordações etc. Tal concentração repetida num pensamento inteiramente absorvido faz convergirem na alma forças que estão, de certa forma, dispersas na vida normal; elas são reforçadas em si próprias. Essas forças concentradas transformam-se nos órgãos de percepção para o mundo espiritual e suas verdades.
    Pode-se conhecer, pelo exposto, o processo correto da meditação. Deve-se primeiro isolar um pensamento, discernindo-o com os meios que nos proporcionam a vida e o conhecimento comuns. Em seguida, aprofundamo-nos repetidamente nesse pensamento, identificando-nos completamente com ele. O revigoramento da alma resulta do convívio com um pensamento conhecido dessa forma. [...] será particularmente proveitoso para o meditante conhecer o estado anímico resultante da oscilação, acima descrita, de sua vida psíquica. É o meio mais seguro para ele ter a sensação de ser tocado, em usa meditação, diretamente pelo mundo espiritual.
    Fonte: GA 17, cap. “Da confiança no pensar. Da essência da alma pensante. Da meditação.”, pp. 12-13. Ênfases do autor.

  • Ao penetrarmos no mundo suprassensível, uma das primeiras impressões será a de um relacionamento com os seres desse mundo, causado pela autoconsciência elevada ao nível desse âmbito e manifesta através de simpatias e antipatias. Essa experiência já nos faz notar que devemos abandonar toda representação relativa ao mundo sensorial se realmente quisermos ingressar no mundo espiritual. Aquilo que se percebe no plano suprassensível pode ser descrito mediante representações extraídas do mundo sensorial. Por exemplo, podemos dizer que um ser se manifesta como que por meio de um fenômeno de coloração. Todavia, quem recebe tais descrições de algo suprassensível nunca deveria esquecer o que quer dizer o verdadeiro pesquisador do espiritual ao utilizar dessa forma uma cor: ele vivencia algo de maneira análoga à percepção da cor correspondente pela consciência sensorial. Quem usa a descrição para afirmar que tem diante de sua consciência algo igual à cor sensorial não é um pesquisador espiritual, mas um visionário ou alucinado.
    Fonte: GA 17, cap. “Prefácio à edição alemã de 1918”, p. 76. Ênfase do autor. Revisão da redação, sem confronto com o original, de VWS.

Não se deve pensar “misticamente” sobre a meditação, mas também não se deve pensar levianamente sobre ela. A meditação deve ser algo totalmente claro no sentido atual. Porém, ao mesmo tempo, ela é algo que exige paciência e energia anímica interior. Antes de tudo, ainda lhe é pertinente algo que ninguém pode dar a outra pessoa: prometer-se algo a si mesmo e depois mantê-lo. Quando o ser humano começa a fazer meditações, ele realiza por seu intermédio o único ato realmente livre nesta vida humana. Sempre temos em nós a tendência para a liberdade, e já concretizamos uma boa parte dela. Mas quando refletimos sobre isso, encontramos o seguinte: de um lado somos dependentes de nossa hereditariedade, de outro, de nossa educação, ainda de outro de nossa vida. [...] Quando, no entanto, tomamos a decisão de fazer uma meditação à noite e de manhã, para que aos poucos aprendamos a observar o mundo suprassensível, também podemos deixar de fazê-lo cada dia. Nada o impede. [...] Nisso estamos totalmente livres. Esse meditar é uma ação arquetipicamente livre. Se pudermos, no entanto, permanecer fiéis, se prometemos a nós mesmos, e não a outrem, que permaneceremos fiéis a esse meditar, então o fato de conseguir simplesmente ficar fiel a si próprio significa uma enorme força na alma.

Über die Meditation soll man nicht “mystisch” denken aber man soll auch nicht leicht über sie denken. Die Meditation muss etwas völlig Klares sein in unserem heutigen Sinne. Aber sie ist zugleich etwas, zu dem Geduld und innere Seelenenergie gehört. Und vor allem Dingen gehört etwas dazu was niemand einem anderen Menschen geben kann: es gehört dazu, dass man sich selber etwas versprechen und es dann halten kann. Wenn der Mensch einmal beginnt, Meditationen zu machen, so volzieht er damit die einzige wirklich völlig freie Handlung in diesem menschlichen Leben. Wir haben in uns immer die Tendenz zur Freiheit, auch ein gut Teil der Freiheit verwirklicht. Aber wenn wir nachdenken, werden wir finden: wir sind mit dem einen abhängig von unserer Vererbung, mit dem anderen von userer Erziehung, mit dem dritten von unserem Leben. [...] Wenn wir uns aber vornehmen, abends und morgens eini Meditation zu machen, damit wir allmählich lernen, in die übersinnliche Welt hineinzuschauen, dann können wir das jeden Tag unterlassen. Nichts steht dem entgegen. [...] Wir sind darin vollständig frei. Es ist dieses Meditieren eine urfreie Handlung. Können wir uns trotzdem treu bleiben, versprechen wir uns, nicht einem anderen, sondern nur uns selber einmal, dass wir diesem Meditieren treu bleiben, dann ist das an sich eine ungeheure Kraft im Seelischen, dieses sich einfach treu bleiben können.

Fonte: GA 305, palestra de 20/8/1922, pp. 79-80. Trad. VWS; rev. SALS.
  • Podemos dizer que a meditação consiste apenas em experimentar o pensamento de maneira diferente da habitual. Hoje experimentamos o pensamento deixando que ele seja estimulado pelo exterior; abandonamo-nos à realidade exterior: podemos observar que quando olhamos, escutamos, tomamos alguma coisa nas mãos etc., experimentamos as impressões acolhidas do exterior transformarem-se em pensamentos. Assim, comportamo-nos passivamente na atividade do pensamento: abandonamo-nos ao mundo e os pensamentos vem a nós. Mas dessa forma não se chega a nada. Devemos começar a experimentar o próprio pensamento. Chegamos a essa experiência simplesmente tomando um pensamento de fácil compreensão e mantendo-o presente na consciência, concentrando totalmente a consciência sobre ele. [...] [É dado um exemplo:] A sabedoria vive na luz. Não importa que seja verdadeiro ou falso. Quando estendemos o braço para colocá-lo repetidamente em movimento, não entra em consideração se esse movimento tem importância universal ou se é uma brincadeira, mas é verdade que assim fortalecemos o braço. Fortalecemos o pensar quando nos esforçamos para repetir uma atividade de pensamento, independente de seu conteúdo. Se insistirmos no esforço anímico de mantê-lo presente na consciência e concentrarmos nele toda vida da alma, nós a fortalecemos da mesma forma como intensificamos a força muscular do braço, se continuarmos a exercitá-lo em uma mesma atividade.
    Fonte: GA 234, palestra de 1/2/1924, pp. 73-74.

Meditação

Eu procuro no interior
A atuação das forças criadoras
A vida das potências criadoras.
Diz-me
A potência da gravidade da Terra
Por meio da palavra de meus pés,
Diz-me
O poder da forma do ar
Por meio do cantar de minhas mãos,
Diz-me
A força da luz do céu
Por meio da reflexão de minha cabeça,
Como o mundo, no ser humano
    Fala, canta, reflete.

Meditation

Ich suche im Innern
Der schaffenden Kräfte Wirken
Der schaffenden Mächte Leben.
Es sagt mir
Der Erde Schweremacht
Durch meiner Füsse Wort,
Es sagt mir
Der Lüfte Formgewalt
Durch meiner Hände Singen,
Es sagt mir
Des Himmels Lichteskraft
Durch meines Hauptes Sinnen,
Wie die Welt im Menschen
    Spricht, singt, sinnt.

Fonte: GA 278, palestra de 27/2/1924, p. 203. Trad. VWS; rev. SALS.

Nos puros raios da luz
Brilha a divindade do universo.
No puro amor para com todos os seres
Irradia o aspecto divino de minha alma.
Eu repouso na divindade do universo;
Eu vou encontrar-me
Na divindade do universo.

In den reinen Strahlen des Lichtes
Erglänzt die Gottheit der Welt.
In den reinen Liebe zu allen Wesen
Erstrahlt die Göttlichkeit meiner Seele.
Ich ruhe in der Gottheit der Welt;
Ich werde mich selbst finden
In der Gottheit der Welt.

Fonte: GA 245, p. 35, cap. “Zwei allgemein gegebene Hauptübungen” (“Dois exercícios principais dados em geral”, isto é, não foram dados para uma pessoa em particular). Trata-se de um verso para ser usado como tema de meditação. Na p. 110 há explicações sobre cada trecho; o verbo “ruhen” da 5ª linha tem o sentido de tanto de “acalmar-se” como de “repousar”. Trad. VWS; rev. SALS.

Brilha o Sol
Para a escuridão da matéria
Assim brilha o ser
Do espírito que tudo sana
Para a escuridão da alma
Na minha existência humana.
Sempre que eu reflito
Sobre a força potente do Sol
Com calor correto do coração
Ele cintila através de mim
Com sua força espiritual do meio dia.

Es leuchtet die Sonne
Dem Dunkel des Stoffes;
So leuchtet des Geistes
Allheilendes Wesen
Dem Seelendunkel
In meinem Menschensein.
So oft ich mich besinne
Auf ihre starke Kraft
In rechter Herzenswärme
Durchglänzt sie mich
Mit ihrer Geistesmittagskraft

Fonte: GA 245, cap. “Mantrische Sprüche” (versos mântricos), p. 79. Trad. VWS; rev. SALS.

Mais radiante que o Sol
Mais puro que a neve
Mais sutil que o éter
É o si próprio,
O espírito em meu coração.
Esse si próprio sou eu,
Eu sou esse si próprio.

Strahlender als die Sonne
Reiner als der Schnee
Feiner als der Äther
Ist das Selbst,
Der Geist in meinem Herzen.
Dies Selbst bin Ich,
Ich bin dies Selbst.

Fonte: GA 245, cap. “Esotherische Stunde in Berlin am 24. Oktober 1905” (Aula esotérica em Berlim em 24/10/1905), p. 85. A palavra Selbst, traduzida por “si próprio”, corresponde ao self em inglês. Trad. VWS; rev. SALS.

Eu trago serenidade em mim,
Em mim mesmo eu trago
As forças que me fortalecem.
Quero preencher-me
Com o calor dessas forças,
Quero permear-me
Com o poder de minha vontade.
E quero sentir
Como a serenidade se derrama
Por todo o meu ser,
Quando me fortaleço
[Para] encontrar em mim
A serenidade como força,
Pelo poder do meu esforço.

Ich trage Ruhe in mir,
Ich trage in mir selbst
Die Kräfte, die mich stärken.
Ich will mich erfüllen
Mit dieser Kräfte Wärme,
Ich will mich durchdringen
Mit meines Willens Macht.
Und fühlen will ich
Wie Ruhe sich ergiesst
Durch all mein Sein,
Wenn ich mich stärke,
Die Ruhe als Kraft
In mir zu finden
Durch meines Strebens Macht.

Fonte: GA 245, cap. “Mantrische Sprüche” (versos mântricos), p. 80 Trad. SALS.

Contempla em tua alma
A força resplandescente
Sente em teu corpo
O poder gravitacional
Na força resplandescente
Brilha o Eu espiritual
No poder gravitacional
Vigora o espírito de Deus
Porém não deve
A força resplandescente
Apossar-se
Do poder gravitacional
E tampouco
O poder gravitacional
Permear
A força resplandecente
Pois se a força resplandecente apossar-se
Do poder gravitacional
E o poder gravitacional penetrar
Na força resplandecente
Alma e corpo
Unir-se-ão numa aberração cósmica
Em perversidade.

Schau in deiner Seele
Leuchtekraft
Fühl in deinem Körper
Schweremacht
In der Leuchtekraft
Strahlet Geistes-Ich
In der Schweremacht
Kraftet Gottes-Geist
Doch darf nicht
Leuchtekraft
Ergreifen
Schweremacht
Und auch nicht
Schweremacht
Durchdringen
Leuchtekraft
Denn fasset Leuchtekraft
Die Schweremacht
Und dringet Schweremacht
In Leuchtekraft,
So binden in Welten-Irre
Seele und Körper
In Verderbnis sich

(*) Contempla em tua alma
Força da luminosidade
Sente em teu corpo
Poder do peso
Na força da luminosidade
Brilha o Eu espiritual
No poder do peso
Atua a força do espírito de Deus
Porém não deve
Força da luminosidade
Agarrar
Poder do peso
E tampouco
Poder do peso
Permear
Força da luminosidade
Pois se a força da luminosidade prende
Poder do peso
E poder do peso penetra
Na força da luminosidade
Unem-se num desvio cósmico
Alma e corpo
Em perversão.

Fonte: GA 316, palestra de 9/1/1924, p. 149. Nas pp. 140-144 há explicações sobre o significado desses versos. (*) Trad. VWS.

Ó espíritos sanadores
Vocês se unem
À bênção sulfúrica
Da fragância etérica;

Vocês se vivificam
Na ascensão do mercúrio,
Na gota de orvalho,
Do que cresce
Do que virá a ser.

Vocês se detêm
No sal terrestre
Que a raiz
No solo alimenta.

Ihr heilenden Geister
Ihr verbindet euch
Dem Sulphursegen
Des Ätherduftes;

Ihr belebet euch
Im Aufstreben Merkurs
Dem Tautropfen
Des Wachsenden
Des Werdenden.

Ihr machet Halt
In dem Erdensalze
Das die Wurzel
Im Boden ernährt


É isso que a alma adquire, por assim dizer, quando olha para o entorno, despertando o sentido interior para aquilo que a rodeia. O ser humano, pode, então, responder:


Das ist gewissermaßen dasjenige, was die Seele erwirbt, indem sie auf den Umkreis hinschaut, den inneren Sinn erweckend für das, was sie umgibt. Der Mensch kann dann antworten:

O meu conhecimento anímico
Quero unir ao fogo
Da fragrância da flor;

Minha vida anímica
Quero estimular na gota cintilante
Da aurora das folhas;

Meu ser anímico
Quero fortalecer na qualidade endurecedora do sal
Com a qual a Terra
Zelosamente cuida da raiz.

Ich will mein Seelenwissen
Verbinden dem Feuer
Des Blütenduftes;

Ich will mein Seelenleben
Erregen am glitzernden Tropfen
Des Blättermorgens;

Ich will mein Seelensein
Erstarken an dem Salzerhärtenden
Mit dem die Erde
Sorgsam die Wurzel pflegt.

Fonte: GA 316. Curso do Natal, 4ª palestra de 5/1/1924, pp. 74-75. Nas pp. 71-73 o autor explica o significado dos versos, o que é essencial para a sua compreensão. Nova trad. VWS; rev. SALS.

Os versos de outros temas que tratam especificamente de questões espirituais (isto é, não físicas), podem também ser usados como objetos de meditação.

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