Um bom preparo para a compreensão do conhecimento espiritual pode ser o fortalecimento, repetidamente vivenciado, que é trazido pelo seguinte conteúdo anímico: “Enquanto penso, sinto-me ligado ao fluxo dos acontecimentos cósmicos.” O importante é muito menos o valor cognitivo abstrato desse pensamento do que o fato de ser frequentemente experimentado na alma o efeito revigorante vivenciado quando tal pensamento flui com força pela vida interior, ao se expandir na vida anímica qual um ar vital espiritual. Não se trata apenas do conhecimento daquilo que jaz em tal pensamento, mas da vivência. O conteúdo é conhecido quando esteve uma vez presente na alma com força persuasiva suficiente; mas se o pensamento há de trazer frutos para a compreensão do mundo espiritual, dos seus seres e fatos, deve ser reanimado na alma depois de ter sido compreendido. A alma deve preencher-se com ele cada vez novamente, só admitindo sua presença e excluindo outros pensamentos, sensações, recordações etc. Tal concentração repetida num pensamento inteiramente absorvido faz convergirem na alma forças que estão, de certa forma, dispersas na vida normal; elas são reforçadas em si próprias. Essas forças concentradas transformam-se nos órgãos de percepção para o mundo espiritual e suas verdades.
Pode-se conhecer, pelo exposto, o processo correto da meditação. Deve-se primeiro isolar um pensamento, discernindo-o com os meios que nos proporcionam a vida e o conhecimento comuns. Em seguida, aprofundamo-nos repetidamente nesse pensamento, identificando-nos completamente com ele. O revigoramento da alma resulta do convívio com um pensamento conhecido dessa forma. [...] será particularmente proveitoso para o meditante conhecer o estado anímico resultante da oscilação, acima descrita, de sua vida psíquica. É o meio mais seguro para ele ter a sensação de ser tocado, em usa meditação, diretamente pelo mundo espiritual.
Fonte: GA 17, cap. “Da confiança no pensar. Da essência da alma pensante. Da meditação.”, pp. 12-13. Ênfases do autor.
Não se deve pensar “misticamente” sobre a meditação, mas também não se deve pensar levianamente sobre ela. A meditação deve ser algo totalmente claro no sentido atual. Porém, ao mesmo tempo, ela é algo que exige paciência e energia anímica interior. Antes de tudo, ainda lhe é pertinente algo que ninguém pode dar a outra pessoa: prometer-se algo a si mesmo e depois mantê-lo. Quando o ser humano começa a fazer meditações, ele realiza por seu intermédio o único ato realmente livre nesta vida humana. Sempre temos em nós a tendência para a liberdade, e já concretizamos uma boa parte dela. Mas quando refletimos sobre isso, encontramos o seguinte: de um lado somos dependentes de nossa hereditariedade, de outro, de nossa educação, ainda de outro de nossa vida. [...] Quando, no entanto, tomamos a decisão de fazer uma meditação à noite e de manhã, para que aos poucos aprendamos a observar o mundo suprassensível, também podemos deixar de fazê-lo cada dia. Nada o impede. [...] Nisso estamos totalmente livres. Esse meditar é uma ação arquetipicamente livre. Se pudermos, no entanto, permanecer fiéis, se prometemos a nós mesmos, e não a outrem, que permaneceremos fiéis a esse meditar, então o fato de conseguir simplesmente ficar fiel a si próprio significa uma enorme força na alma. |
Über die Meditation soll man nicht “mystisch” denken aber man soll auch nicht leicht über sie denken. Die Meditation muss etwas völlig Klares sein in unserem heutigen Sinne. Aber sie ist zugleich etwas, zu dem Geduld und innere Seelenenergie gehört. Und vor allem Dingen gehört etwas dazu was niemand einem anderen Menschen geben kann: es gehört dazu, dass man sich selber etwas versprechen und es dann halten kann. Wenn der Mensch einmal beginnt, Meditationen zu machen, so volzieht er damit die einzige wirklich völlig freie Handlung in diesem menschlichen Leben. Wir haben in uns immer die Tendenz zur Freiheit, auch ein gut Teil der Freiheit verwirklicht. Aber wenn wir nachdenken, werden wir finden: wir sind mit dem einen abhängig von unserer Vererbung, mit dem anderen von userer Erziehung, mit dem dritten von unserem Leben. [...] Wenn wir uns aber vornehmen, abends und morgens eini Meditation zu machen, damit wir allmählich lernen, in die übersinnliche Welt hineinzuschauen, dann können wir das jeden Tag unterlassen. Nichts steht dem entgegen. [...] Wir sind darin vollständig frei. Es ist dieses Meditieren eine urfreie Handlung. Können wir uns trotzdem treu bleiben, versprechen wir uns, nicht einem anderen, sondern nur uns selber einmal, dass wir diesem Meditieren treu bleiben, dann ist das an sich eine ungeheure Kraft im Seelischen, dieses sich einfach treu bleiben können. |
|
Fonte: GA 305, palestra de 20/8/1922, pp. 79-80. Trad. VWS; rev. SALS. |
Meditação Eu procuro no interior |
Meditation Ich suche im Innern |
|
Fonte: GA 278, palestra de 27/2/1924, p. 203. Trad. VWS; rev. SALS. |
Nos puros raios da luz |
In den reinen Strahlen des Lichtes |
|
Fonte: GA 245, p. 35, cap. “Zwei allgemein gegebene Hauptübungen” (“Dois exercícios principais dados em geral”, isto é, não foram dados para uma pessoa em particular). Trata-se de um verso para ser usado como tema de meditação. Na p. 110 há explicações sobre cada trecho; o verbo “ruhen” da 5ª linha tem o sentido de tanto de “acalmar-se” como de “repousar”. Trad. VWS; rev. SALS. |
Mais radiante que o Sol |
Strahlender als die Sonne |
|
Fonte: GA 245, cap. “Esotherische Stunde in Berlin am 24. Oktober 1905” (Aula esotérica em Berlim em 24/10/1905), p. 85. A palavra Selbst, traduzida por “si próprio”, corresponde ao self em inglês. Trad. VWS; rev. SALS. |
Eu trago serenidade em mim, |
Ich trage Ruhe in mir, |
|
Fonte: GA 245, cap. “Mantrische Sprüche” (versos mântricos), p. 80 Trad. SALS. |
Contempla em tua alma |
Schau in deiner Seele |
(*) Contempla em tua alma |
|
Fonte: GA 316, palestra de 9/1/1924, p. 149. Nas pp. 140-144 há explicações sobre o significado desses versos. (*) Trad. VWS. |
Ó espíritos sanadores Vocês se vivificam Vocês se detêm |
Ihr heilenden Geister Ihr belebet euch Ihr machet Halt |
|
É isso que a alma adquire, por assim dizer, quando olha para o entorno, despertando o sentido interior para aquilo que a rodeia. O ser humano, pode, então, responder: |
|
|
O meu conhecimento anímico Minha vida anímica Meu ser anímico |
Ich will mein Seelenwissen Ich will mein Seelenleben Ich will mein Seelensein |
|
Fonte: GA 316. Curso do Natal, 4ª palestra de 5/1/1924, pp. 74-75. Nas pp. 71-73 o autor explica o significado dos versos, o que é essencial para a sua compreensão. Nova trad. VWS; rev. SALS. |
Os versos de outros temas que tratam especificamente de questões espirituais (isto é, não físicas), podem também ser usados como objetos de meditação.