Ute Craemer e Christiane Haid
Publicado em alemão em www.kulturimpuls.org,
que autorizou a presente publicação
Tradução e adaptação: Rodolfo Schleier; revisão:
V.W.Setzer
Friedrich Mueller1 foi fundador da fábrica de medicamentos Weleda no Brasil, dedicou-se à formação continuada de médicos e farmacêuticos, e atuou também no âmbito da Sociedade Antroposófica.
Friedrich Reinhard Ernst Mueller nasceu em 21 de novembro de 1937 em Nürnberg, Alemanha, filho de um funcionário público. Ingressou no ensino primário público ainda durante a guerra, e dois anos depois freqüentou a Escola Waldorf Livre em Nürnberg. Fez dois estágios na Weleda em Schwäbisch Gmünd entre 1954 e 1955, o que seria determinante para sua vida profissional posterior. Apesar de seu dom musical ele tocava muito bem violino, acordeão e flauta decidiu-se por uma experiência como técnico de laboratório químico na Milchversorgung GmbH da Baviera em Nürnberg2 e cursou a escola profissionalizante entre 1955 e 1959. Depois fez o curso de técnico em química em Augsburg. Em 1963 foi para a Weleda em Schwäbisch Gmünd. Ali ele encontrou o industrial brasileiro Pedro Schmidt, uma guinada decisiva em sua vida: Schmidt procurava uma personalidade com iniciativa para a construção de uma filial da Weleda no Brasil. A medicina antroposófica tinha se desenvolvido nesse período de forma tão ampla, que a importação de produtos farmacêuticos estrangeiros era muito cara, e uma produção própria do país poderia contar com demanda satisfatória. Schmidt juntamente com sua esposa Gudrun, médica, foi um dos mais importantes fundadores de iniciativas de orientação antroposófica no Brasil. Friedrich Mueller aceitou a tarefa como um desafio, e em 1967 emigrou para o Brasil.
O movimento antroposófico no Brasil encontrava-se nesse tempo em em seu relativo início: havia apenas uma escola Waldorf em português e alemão (em classes paralelas, na então Escola Higienópolis, posteriormente Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo), e uma igreja da Comunidade de Cristãos. A Dra. Gudrun era a única médica antroposófica, e a Clínica Tobias estava em construção.
A Weleda do Brasil localizava-se então no espaço da fábrica de móveis Giroflex, o principal financiador da futura Associação Beneficente Tobias e acomodação provisória para o seu trabalho. O âmbito de tarefas do Sr. Mueller na fase pioneira era extremamente variado. Ele ocupava-se do escritório, da fábrica, de constantes negociações com a alfândega, das vendas e das plantações de ervas medicinais. Ao lado de iniciativas médico-terapêuticas foi também pesquisador no âmbito farmacêutico. Com o tempo, além de medicamentos também eram fabricados cosméticos e alimentos. Na primeira fase da Weleda do Brasil as substâncias de partida ainda eram fornecidas pela Alemanha. O Sr. Mueller empenhou-se em aclimatar as plantas para a produção de matérias primas no Brasil mesmo3. Logo foi aberta a primeira Farmácia Weleda, e outras se seguiram. Ao lado da fabricação de medicamentos, um novo campo de atividades cresceu para Friedrich Mueller na formação de farmacêuticos brasileiros, assim como de representantes e vendedores. Ministrou inúmeras palestras sobre temas médicos, mas também sobre trimembração social e formação de comunidades. Manteve uma relação próxima com Lex Bos do Nederlands Paedagogisch Instituut (NPI) da Holanda, que trabalhava com questões semelhantes. Com a instituição de cursos médicos, que foram fortemente orientados por Otto Wolff entre outros, Mueller deu um impulso decisivo para o desenvolvimento subseqüente da medicina no Brasil.
Mueller engajou-se também no âmbito da Sociedade Antroposófica, onde conduziu palestras sobre temas antroposóficos e, por meio de consideráveis períodos de estudo na Alemanha, trouxe consigo novos impulsos para o seu trabalho no Brasil.
Por sua personalidade repleta de caráter, retidão e responsabilidade, ele criou entre colaboradores e clientes uma confiança incontestável na qualidade dos produtos Weleda brasileiros.4
Em meados dos anos 70 a Weleda expandiu-se cada vez mais e estendeu seu campo de atividades para a produção de chás. Em seguida veio a fundação de mais farmácias e em 1986 a importante compra de um edifício fabril próprio. A mudança da empresa trouxe consigo longas jornadas, o que, com o passar dos anos, com uma crescente sobrecarga de trabalho, era cada vez mais difícil de administrar, desgastando sua saúde. Em 24 de novembro de 1988 Friedrich Mueller faleceu em decorrência de um infarto do miocárdio.
Obs. do T.:
1 Apesar de no Brasil ser mais conhecida a forma Müller, este texto manteve a forma Mueller do original;
2 Bayerische Milchversorgung GmbH era uma usina de leite em Nürnberg, considerado modelo de planta industrial para a época, hoje tombada como patrimônio histórico.
3 Antes do Sr. Mueller, os medicamentos e cosméticos Weleda eram trazidos da Europa e fracionados de forma artesanal.
4 Uma farmacêutica conta que num dos seus primeiros dias de trabalho na Weleda estava na porta da fábrica um grupo da força sindical, incentivando os funcionários a entrar em greve. O pessoal da produção reuniu-se na calçada e de comum acordo todos resolveram não aderir à greve porque o Sr. Mueller era muito bom e querido por todos e ele não merecia aquilo; todos entraram e trabalharam. Mais tarde, essa farmacêutica teve, por meio dele, o primeiro contato com a Antroposofia, e veio a se tornar proprietária de uma farmácia Weleda. Outro colaborador relata que o Sr. Mueller era muito preocupado com as questões humanas e com o bem-estar dos colaboradores. Médicos contam que ele visitava freqüentemente os consultórios para colher sugestões, esclarecer dúvidas e trocar idéias chegando para isso a ir até Juiz de Fora (cerca de 480 km de São Paulo). Por todos esses detalhes o Sr. Mueller era muito querido e lembrado até hoje com carinho por todos que o conheceram.
Ültima atualização: 14/12/09