(06-06-2011) – O carro é uma paixão nacional,
certo? Meia verdade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, seis em
cada dez brasileiros não são flechados pelo cupido motorizado; ao contrário,
sofrem de um distúrbio cada vez mais comum: medo de dirigir. Para quem quer
enfrentar o problema, há muitos tratamentos disponíveis, boa parte deles já
testados
pelo site WebMotors. Na última semana, conhecemos mais um, a quirofonética,
e ficamos bem impressionados com os resultados. Confira o que a técnica tem
de diferente.
UM CORPO QUE FALA
Respiração alterada, mãos geladas, frio na barriga. Se o medo afeta diretamente
a respiração e o corpo, pode-se voltar à harmonia e ao equilíbrio pelo
mesmo caminho: respiração e corpo. Esta é uma das ideias propostas pela quirofonética,
terapia que combina massagem e a vocalização de fonemas para o tratamento
de diversos distúrbios de comportamento, entre eles o medo de dirigir.
A técnica, já explorada por psicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos, tem
como base a medicina antroposófica, ciência espiritual que estuda o homem
não apenas em seu desenvolvimento biológico, mas também emocional, além de
considerar suas crenças e valores.
SOM EM MOVIMENTO
“A quirofonética usa a força curativa dos fonemas – vogais e consoantes
–, que são a estrutura da fala do homem, e despertam a capacidade de
reequilíbrio do organismo como um todo”, explica Ana Cristina Corvelo,
psicóloga e presidente da Associação Brasileira de Quirofonética. Segundo
ela, essa técnica terapêutica é resultado de um estudo fenomenológico dos
fonemas, que leva em conta suas diversas características, desde a forma de
articulação de cada um deles, as sensações que produzem em nós e os efeitos
resultantes quando aplicados na forma de movimento corporal.
De acordo com Ana Cristina, nossas experiências, boas ou ruins, estão gravadas
na mente e também no corpo, influenciando nossos pensamentos, sentimentos
e vontade. Daí, a necessidade de se atuar também no corpo para o sucesso do
tratamento do medo de dirigir. “Nossas dificuldades emocionais, que
nos impedem de nos desenvolver integralmente, resultam em uma respiração presa,
tensionada, em suspensão. É importante dar atenção a ela nos processos de
cura. A fala humana é um fenômeno que só acontece porque respiramos. Na fala
estão as imagens arquetípicas da contração e expansão, que podem e devem ser
estimuladas se desejamos encontrar equilíbrio e cura”.
IDEIA QUE SUSTENTA O MEDO
Os sons, para a quirofonética, são como medicamentos. “Primeiro descobrimos
que crenças estão sustentando a fobia ou o trauma de dirigir. Os fonemas são
escolhidos de acordo com o diagnóstico de cada caso. O som, entretanto, não
é usado isoladamente. “O terapeuta massageia o corpo do paciente, reproduzindo
com as mãos o movimento fonético nas costas, nos braços ou nas pernas do paciente,
ao mesmo tempo em que vocaliza o som do fonema. O tratamento atua sobre o
tato, a audição, o calor e o movimento”, explica Ana Cristina.
Para o medo de dirigir, a técnica que usa o toque no processo de cura tem
outra vantagem. “Quando sentimos muito medo não conseguimos mais distinguir
o real do imaginário. A experiência sensorial ajuda nessa distinção. O paciente
experimenta – pelo calor das mãos do terapeuta – o que é estar
presente dentro dos limites da própria pele, que o mundo é verdadeiro”.
TEST-DRIVE
Convidamos Andréia Jodorovi, nossa cobaia em tratamentos do medo de dirigir,
para mais essa experiência. Com boa parte de seu medo reduzido, mas ainda
insegura para dirigir à noite ou em locais desconhecidos, Jodorovi topou conhecer
o processo. Ela descreve a experiência:
Como não sabia em que estado sairia de sessão, preferi não ir ao consultório
dirigindo. Ainda preciso de atenção completa ao volante. Depois descobri que
foi a decisão mais acertada.
A primeira diferença da quirofonética para uma terapia convencional é que,
depois de dizer meu problema à terapeuta, Ana Cristina, não precisei falar
mais. O restante do tratamento foi feito em uma maca macia e confortável.
Você é quem escolhe entre ficar de calça e camiseta ou em trajes de banho.
No segundo caso – minha opção – há a vantagem de o terapeuta usar
óleo essencial, o que torna a massagem mais relaxante.
No início, tudo é muito estranho. Nunca passei por um ritual xamânico,
mas imagino que a experiência seja parecida. Minha sensação era de que Ana
colocava a própria natureza no meu corpo.
Me esforcei para ficar acordada nos 40 minutos que se seguiram (espera-se
que paciente fique desperto para que ele tenha consciência dos sons e possa
imitá-los interiormente). Mas foi impossível escapar daquele estado bom que
antecedo o sono, e em que memórias e imagens correm criativas e sem censura.
Dos fonemas aplicados por ela, o que mais me tocou foi o som que, em minha
interpretação, parecia de vento. Simultaneamente, ela deslizava as mãos pelas
minhas costas em um movimento que me fez lembrar o ruflar de asas. Imediatamente,
senti como se pudesse voar. A cada novo som e movimento, um sentimento novo
era despertado.
No fim da seção, experimentei sensações paradoxais. Meia hora depois de
sair da maca, ainda estava meio grogue; depois, passei quase duas horas agitada,
como se quisesse pensar em tudo ao mesmo tempo. Finalmente, a sensação de
relaxamento profundo predominou o resto da tarde.
Dois dias depois, comecei a sentir muita dor no ombro esquerdo, o mais
trabalhado pela Ana Cristina. Foi um dia inteiro com o incômodo. Quando a
dor passou, porém, ficou quase uma coragem, um destemor, não apenas para dirigir,
mas para viver também.
Parece até uma descrição matemática para um tratamento aparentemente subjetivo.
Depois de experimentar tantas técnicas, entretanto, posso garantir que os
resultados são profundamente perceptíveis. Coincidência ou não, na semana
seguinte, pela primeira vez, tive coragem de pegar o carro à noite e ir à
aula de inglês sem, previamente, saber onde estacionar (quem tem medo de dirigir
sabe o que isso significa).
Coincidência ou não, repito, depois desse fato não tenho evitado nenhuma
experiência com o carro. Uma única seção provocou tudo isso? Não sei. Talvez
você possa tentar, quem sabe também o som dos motores entrem na sua vida de
maneira curadora.
QUIROFONÉTICA
Quem pode fazer: de crianças a idosos
Quem não pode: gestantes, pacientes psiquiátricos em crise, pessoas
com cirurgia recente, febre ou processos inflamatórios.
Preço: a partir de R$ 180 cada seção.
Onde: veja endereços em www.sab.org.br/med-terap/quiro