A música foi durante muito tempo considerada uma matéria
escolar clássica quase "de luxo", de difícil
acesso para crianças vindas de famílias menos abastadas
ou menos cultivadas nas expressões artísticas.(*)
Uma linha pedagógica exemplar no que concerne à utilização
alargada e democrática da música está representada
nas escolas Waldorf, onde o ensino de música está integrado
permanentemente no seu currículo contínuo, sem chumbos,
com 12 anos de duração. Nos primeiros 6 a 8 anos a música
está presente não só especificamente nas aulas
de música, mas também na Aula Principal (período
inicial que inaugura cada dia de aprendizagem) e nas aulas de Inglês
e Francês, previstas para todos os alunos já desde o 1.º
ano de escolaridade. Nos anos seguintes formam-se pequenas orquestras
individuais nas classes, bem como conjuntos de música e grupos
corais, que mais tarde são integrados no grande coro e orquestra
do nível secundário. No currículo Waldorf os conteúdos
musicais dos dois primeiros anos baseiam-se em instrumentos pentatónicos,
seguidos de cânones e exercícios polifónicos das
tradições nacionais, para depois alargarem-se a experiências
com folclores e ritmos de todo o mundo, mais a descoberta de instrumentos
pouco conhecidos e o estudo das biografias de famosos músicos.
Nos anos finais, em plena puberdade, os alunos dedicam-se a aprofundar
o seu conhecimento das grandes épocas da música clássica
europeia, até chegarem à moderna música e aos estilos
populares dos séculos XX e XXI.
Uma série de recentes experiências conduzidas por entidades
científicas independentes veio evidenciar que a música é
um fator primordial para um saudável desenvolvimento de crianças
e jovens durante o período escolar. Em Francoforte, o Prof. Dr.
Hans Gunther Bastian realizou por exemplo testes de longa duração,
que mostraram que as atividades musicais criativas não só
impulsionam a capacidade musical propriamente dita, mas ainda influenciam
de maneira marcante aspetos insuspeitados para todo o processo educativo:
competência social, motivação para aprender e trabalhar,
inteligência, capacidade criativa, equilíbrio emocional,
e até habilidade para resolver conflitos.
A importância que a Pedagogia Waldorf confere, de maneira pioneira
e há quase um século em todo o mundo, à música
na vida escolar foi ainda confirmada por estudos do novíssimo setor
da medicina chamado investigações neurocerebrais. Na Universidade
Ludwig Maximilian, em Munique, o famoso investigador Ernst Poeppel verificou
que uma formação musical oferece um auxílio ideal
para o desenvolvimento de crianças e jovens. Em orquestras ficou
evidenciado que a aprendizagem de um instrumento, mais as atividades musicais
em grupo, tem a extraordinária capacidade de preparar os jovens
para mostrarem-se mais tarde equilibrados psíquica e emocionalmente.
Em comparação com alunos que não haviam praticado
qualquer atividade musical, os alunos com hábitos musicais regulares
mostraram resultados escolares acima da média e até um desempenho
superior em desporto e atividades profissionais.
A deficiente atenção que muitas escolas dedicam hoje ao
ensino da música e das artes constitui um verdadeiro problema social
com sérias consequências para o futuro. Um abandono precoce
da música na escola pode promover uma tendência para mobbings
e violências, bem como uma dificuldade na integração
de jovens de diferentes extratos sociais, e até problemas na interação
com crianças de famílias oriundas de outras regiões.
Yehudi Menuhin, um dos mais celebrados músicos dos tempos modernos,
afirmou uma vez: "A música é a verdadeira língua
materna da humanidade."
(*) N. do webmaster. No Brasil, havia o ensino obrigatório da
disciplina Canto Orfeônico, onde se ensinava música, em
todas as escolas do Brasil, durante todo o antigo Ginásio (correspondente
hoje aos 6º a 9º ano na nova seriação que introduziu
o absurdo pedagógico da escolaridade começar aos 5 ou
6 anos de idade). O Canto Orfeônico foi introduzido por ninguém
menos do que Villa Lobos, o maior compositor erudito brasileiro. Infelizmente,
o regime militar de 1964 acabou com essa disciplina.