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RAMO RUDOLF STEINER DE SÃO PAULO
Sonia Setzer
Publicado no Boletim da Sociedade Antroposófica no Brasil, Ano XVI, Nº 57, Páscoa de 2010, pp. 26-27

Como era o movimento antroposófico em São Paulo no início dos anos 60? A Comunidade de Cristãos, dirigida pelo pastor Suwelack, tinha sua igreja numa casa reformada no Sumaré. A Weleda já estava produzindo medicamentos para a então única médica antroposófica (Dra. Gudrun). A Escola Higienópolis (atual Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo) mudara-se recentemente do bairro de Higienópolis para o local onde ainda hoje funciona, em Santo Amaro. Seus principais professores tinham vindo da Alemanha. O estudo antroposófico acontecia no Ramo Paulus, em alemão.

Na Escola Higienópolis o ensino era ministrado, em grande parte, em alemão, e professores brasileiros eram treinados pelos colegas estrangeiros para realizarem seu trabalho em português. Muito rapidamente fizeram-se necessárias classes paralelas, sendo que uma era conduzida em alemão e a outra em português, e os dois professores de classe trabalhavam em conjunto. No segundo semestre de 1962 o experiente professor Max Stibbe passou alguns meses no Brasil, para ajudar na formação dos professores brasileiros. Num feriado prolongado de novembro daquele ano ele ministrou um curso, que foi aberto aos cônjuges dos professores atuantes, pais e amigos interessados.

Muitos dos participantes quiseram continuar seus estudos de Antroposofia, e o Dr. Rudolf Lanz atendeu o pedido oferecendo um curso de Introdução à Antroposofia, em sua residência, em Alto de Pinheiros. O grupo queira mais. No entanto, quase não havia traduções da obra de Steiner para o português. As poucas existentes foram estudadas... e o grupo queria mais. Então passou-se a estudar ciclos de conferências de Rudolf Steiner, sendo que o casal Lanz ou outros participantes que tinham conhecimento de alemão, ou acesso a traduções em outros idiomas, traziam resumos de cada conferência do ciclo em questão, cujo conteúdo era debatido, para melhor entendimento.

Finalmente começaram a ser traduzidas algumas das obras básicas de Steiner e, à medida que iam sendo publicadas (ainda de forma muito artesanal), elas serviram de material de trabalho para o grupo, cujas reuniões continuavam a ser na residência do casal Lanz.

Alguns participantes tinham se tornado membros da Sociedade Antroposófica pelo Ramo Paulus, e em 1972 decidiu-se transformar esse grupo de estudos em Ramo. A escolha do nome ocorreu numa das reuniões do grupo de estudos, as formalidades com Dornach foram efetuadas, outros participantes decidiram tornar-se membros pelo novo Ramo. Esse processo foi tão natural, que não houve uma reunião formal de "fundação do Ramo"! Nem me lembro do mês em que isso aconteceu.

Até o seu falecimento, a condução do Ramo coube a Rudolf Lanz, porém, em seus últimos anos de vida ele pediu minha colaboração, porque sua saúde às vezes lhe impedia de estar presente nas reuniões. Somente depois de sua morte, em 1998, eu assumi a condução dos estudos, e as reuniões passaram a ocorrer na Biblioteca da Escola Waldorf Rudolf Steiner.

Uma das características deste Ramo foi que, desde o início, os encontros não eram exclusivamente para membros; qualquer pessoa interessada podia juntar-se ao estudo. Muitos amigos vieram, alguns ficaram, outros se afastaram por diversos motivos, destes alguns retornaram.

O formato das reuniões sofreu algumas modificações no decorrer de tantos anos, mas o aspecto central sempre foi o estudo da obra de Steiner. A abertura é feita com as palavras de Steiner "Temos que extirpar da alma...". Houve períodos nos quais, com a orientação de um dos participantes, fizemos em seguida um pouco de euritmia, ou então um exercício de ginástica Bothmer, ou um pouco de canto; essa atividade inicial servia de ‘preparo’ para o estudo mais intelectual. Sempre há um tempo reservado para comunicados, relatos, ou um pequeno debate sobre algum problema da atualidade. A finalização é feita com a leitura de um verso ou, de tempos em tempos, com a observação de uma obra de arte (por exemplo, a sequência das Madonas de Rafael, a Santa Ceia de Leonardo da Vinci, outras obras de Rafael).

Cada capítulo ou palestra a ser estudado é preparado por um participante assíduo, que faz um resumo do mesmo. Além disso, ele subdivide o capítulo ou palestra em trechos. Cada trecho é lido, alternando-se os leitores, e depois é discutido.

Quando acontecem cursos ou palestras organizados pela Sociedade Antroposófica, tornou-se hábito fazer um relato, a fim de compartilhá-los com os amigos que não puderam estar presentes. Em se tratando de um curso, esse resumo pode preencher toda uma noite.

Geralmente a Sociedade promove comemorações das festas anuais nos dias de reunião dos Ramos, para permitir que um maior número de participantes possa estar presente. Então não fazemos comemoração própria do Ramo, com exceção do Natal, que é feita em adição à da Sociedade. Nas comemorações ‘internas’ contamos com a colaboração dos participantes para trazerem alguma contribuição vinculada à data.

Nossas reuniões acontecem às terças-feiras, das 20:30 às 22:00h, na Biblioteca Rudolf Lanz, da Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo. A participação é um pouco flutuante, mas contamos em média com 20 a 30 participantes, dos quais a maioria é membro da Sociedade. O grupo é bem ativo, as discussões e debates enriquecem muito o estudo, não apenas no entendimento, mas também na conscientização maior de nossas tarefas aqui na Terra, por meio de relatos e discussões de temas da atualidade.

Assim é que, nos anos 1999 e 2000 realizamos cursos de Introdução à Antroposofia, nos quais alguns participantes do Ramo assumiram, cada um, uma palestra do curso. Outros participantes assumiram a organização e divulgação. Essa realização de um trabalho do Ramo tendo como foco o mundo exterior, foi coroado de êxito, tanto pelo número de participantes iniciais (no primeiro, tivemos 120!), quanto pelos que chegaram a finalizar o curso. E ainda estreitou muitos laços, não só de amizade, como também de confiança mútua, e vontade de ajudar onde fosse preciso. A meta era não apenas divulgar a Antroposofia, mas também formar novos palestrantes. A interrupção desse trabalho ocorreu pelo fato de o curso passar a ser promovido pela Sociedade Antroposófica, mas ele nunca foi esquecido, pois o grupo tem plena consciência da necessidade de se levar a Antroposofia para o mundo.

De qualquer forma, uma idéia que norteia profundamente nosso trabalho é tentar que, cada vez mais, o Ramo possa tornar-se um recipiente vivo e digno para o ser Antroposofia manifestar-se na Terra.