RAMO TOBIAS DE SÃO PAULO
Gabriella Di Sabbato Seltz
Publicado no Boletim da Sociedade Antroposófica no Brasil,
Ano XVI, Nº 58, Época de São João, 2010, pp. 28-29
Em Abril de 1982 aconteceu em São Paulo o 1º Congresso Antroposófico Brasileiro, que contou com a presença do Sr. Rudolf Grosse, presidente da Sociedade Antroposófica em Dornach. O congresso culminou com a fundação da Sociedade Territorial no Brasil, na presença de muitos membros que vieram de vários lugares do país. Nesta ocasião, alguns membros do Ramo Paulus e outros se preocuparam em incluir na Sociedade Antroposófica os trabalhos antroposóficos que então se realizavam na Clínica Tobias, como palestras, grupo de estudos, concertos etc.; surgiu então a pergunta: porque não formar um terceiro Ramo em São Paulo, na Clínica Tobias? A pergunta foi colocada ao Sr. Grosse que concordou plenamente. Assim, no dia 24 de Abril, a Dra. Gudrun comunicou a formação do novo Ramo, o Ramo Tobias, sendo responsáveis por ele a Dra. Gudrun, o Dr. Kaliks e a Sra. Ada Jens. O nome Tobias foi escolhido em referência à lenda bíblica do jovem Tobias que foi guiado pelo Arcanjo Rafael, o arcanjo da cura, na busca de medicamentos para o seu velho pai. No dia 17 de junho de 1982 foi inaugurado o novo Ramo Tobias com programação festiva e a presença de membros dos Ramos Paulus e Rudolf Steiner, entre outros convidados.
Naquela época havia internação na Clínica Tobias e grande movimento de médicos, estagiários, pessoal de enfermagem, terapeutas, etc. O número de participantes nos encontros era tal que no começo dividíamos as pessoas em duas salas (a biblioteca e a sala de terapia artística), e como o Ramo desde o começo teve um caráter mais aberto, às vezes pacientes internados participavam da leitura. O trabalho começava com observação de obras de arte ou desenho de formas, ministrados de maneira admirável pela Sra. Ada Jens. O primeiro livro de Rudolf Steiner lido foi Moral Teosófica. Aos poucos, com o passar do tempo, os fundadores do Ramo foram se retirando, solicitados em outros compromissos profi ssionais. Assim como outros participantes, que formavam um grupo bastante fl utuante, pois muitos estagiavam na Clínica por um tempo e depois retornavam para o seu local de origem ou assumiam novos compromissos aqui em São Paulo. Em 1993 a clínica encerrou as internações, o movimento do ramo diminuiu e também foi perdendo a característica de ser frequentado em sua maioria por pessoal da área médicoterapêutica. A partir desse ano a condução do Ramo passou a ser exercida por mim e em seguida também pelo Dr. Michael Blaich, o que perdura até hoje.
Em 1996 o Ramo saiu da casa paterna por dificuldades funcionais da Clínica e mudou-se para a casa da Sociedade Antroposófica na Rua São Benedito. Quando terminou a construção do Espaço Cultural, o Ramo passou a se reunir na biblioteca, onde o encontro se dá às terças-feiras, às 20 horas. Atualmente contamos com 12 a 18 participantes, o que já está começando a tornar difícil sua acomodação no espaço da biblioteca; quase todos são membros da Sociedade e cerca de um terço membros da Classe. A frequência é bastante instável por serem os membros, em sua maioria, pessoas em plena atividade profi ssional, com os compromissos à elas inerentes e também por ser o Ramo aberto às pessoas que nos visitam, e que buscam um caminho espiritual, mas do qual ainda não tem uma defi nição correta.
O Ramo é conduzido, além de Michael Blaich, e por mim, por pessoas que permaneceram conosco desde sua fundação, por pessoas especialmente dedicadas ao trabalho antroposófico que foram chegando e por mim. As reuniões iniciam-se com 5 minutos de desenho de formas, para acalmar o pensar e desligar-se do mundo externo. Segue a leitura de um verso e alguém faz o resumo do que foi lido na última vez; quando o fi o é retomado segue a leitura do dia. Antes disso, se existir algum acontecimento importante do momento (e sempre existe), é comentado e às vezes comparado ao tema da leitura. O que consideramos especialmente valioso, no trabalho de nosso Ramo, é a busca de equilíbrio entre a leitura dos textos de Rudolf Steiner e a participação individual dos presentes, o que cria um clima amistoso, acolhedor, que motiva as pessoas a se colocarem, sem receios.
As festas do ano são sempre comemoradas, mesmo quando participamos dos programas da Sociedade. Nessas ocasiões iniciamos com a leitura da Pedra Fundamental, seguimos com um texto próprio para a ocasião ou com projeção e contemplação de obras de arte relativas à festa.
No Natal a programação é especial. Além da leitura da Pedra Fundamental fazemos uma retrospectiva dos trabalhos do ano de trás para frente, com comentários de como esses conteúdos trabalhados foram recebidos por cada um dos participantes, as sugestões, etc. Segue a leitura de um texto escolhido e a observação de uma obra de arte que nos preenche a alma de beleza e espiritualidade, para levarmos para as Festas. Terminamos o encontro festivo com alegria e bom humor, valorizando o conteúdo de uma linda mesa preparada para a ocasião.
Em 2009, a Festa de Micael foi festejada pelo Ramo Tobias de maneira muito especial. Foi um retiro de um Sábado, dia 3 de Outubro, num sítio de um de nossos membros. O tema escolhido para o encontro foi: "como cada um de nós encontrou a Antroposofi a". O programa iniciou com uma alocução de Michael Blaich sobre o Congresso ocorrido em 1879, no mundo espiritual, entre Micael e as almas dos futuros antropósofos e a descida simultânea à Terra das duas correntes, Platônica e Aristotélica. A Karin Glass nos enviou, pois estava impossibilitada de vir, um resumo da história da formação da Sociedade Antroposófica, e o Elizeu Takase trouxe a Corrente Espiritual de Elias, João Batista, João Evangelista, Rafael e Novalis. Após o almoço trabalhamos com um exercício de aquarela e depois do café iniciamos os relatos sobre o tema principal do retiro: como cada um, de maneiras tão diferente, encontrou um dia a Antroposofia.
Foi emocionante perceber o caminho através do carma individual que nos levou a esse encontro, como nos diz Rudolf Steiner, talvez já estivesse escrito no destino de cada um. Foi um dia muito especial que estreitou mais os laços entre os membros, e nos deu a percepção da importância e a responsabilidade do nosso trabalho perante o mundo espiritual. Pretendemos repetir mais vezes encontros como este no futuro.
Neste ano de 2010, em 17 de Junho, o Ramo Tobias completará 28 anos
e o 4º setênio de existência. Nestes 4 setênios teve
alegrias, sofreu perdas, saiu da casa paterna, buscou seu local de atuação,
teve encontros importantes e chega aos 28 anos mais maduro, consciente de
metas e responsabilidades perante o mundo espiritual. Conforme nos disse Sergej
Prokofieff em um encontro de dirigentes de Ramos: almas de grupos jovens buscam
os Ramos para aprender conosco o trabalho espiritual em liberdade, esperamos
que uma delas já esteja pairando sobre o nosso ramo e nos auxiliando
nesta importante tarefa.