Relato de uma palestra contra a alfabetização precoce

Imprimir

Anderson Paulino (*)
Tels: (21) 3102-3994, 9611-9511 - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Como se sabe, é muito comum encontrar pais ávidos de ver os filhos lendo e escrevendo já nas séries pré-escolares. Como, baseado na Pedagogia Waldorf, sou contrário a essa idéia, um dos pontos centrais de uma reunião com pais de nosso Jardim de Infância estava voltado para tratar dos efeitos de uma alfabetização precoce. Para fazer os presentes vivenciar a importância dos sentidos humanos na interpretação da realidade ou, se se preferir, na leitura da realidade, fiz o seguinte experimento:

1. Destaquei do site do Prof. Valdemar W. Setzer, do Depto. de Ciência da Computação da USP, o artigo intitulado "Como simplificar um texto científico". Fiz várias cópias recortadas do trecho "Texto original", outras cópias do trecho "Primeiro estágio" e comprei uma rapadura.

2. Na parte da palestra em que ia falar das implicações da alfabetização no primeiro setênio, dividi todos os pais em três grupos. O primeiro grupo recebeu a tira de papel com o primeiro texto impresso; o segundo grupo, sem que os demais pudessem ver, recebeu um pedaço de rapadura e logo depois o segundo texto impresso e o terceiro grupo recebeu apenas o pedaço de rapadura. O desafio era que eles tentassem extrair daquela realidade, com todos os seus sentidos, a idéia principal que eu lhes queria transmitir.

3. Para minha alegria, ao começar a questioná-los sobre o que conseguiram captar daquilo que vivenciaram e experimentaram, foi justamente o terceiro grupo o primeiro a chegar a idéia "rapadura é doce mas não é mole", seguido pelo segundo grupo. O terceiro sequer fazia idéia do que lhe estava sendo de transmitido.

A partir dessa vivência tentei mostrar para eles o quanto a mera decodificação de símbolos (tarefa do grupo 1) era pobre em atingir a realidade, sobretudo quando não se vivenciou algo sobre aquilo que se lia. Mostrei que é justamente esse o problema dos alunos brasileiros: lêem mas não compreendem aquilo que leram. Mostrei o quanto os sentidos humanos quando bem desenvolvidos e estimulados podem propiciar a "leitura do mundo" ainda que não se saiba decodificar símbolos. Baseado nessa vivência pela qual eles passaram e na Pedagogia Waldorf, pude salientar muitos outros pontos.

O resultado foi muito bom. Os pais entenderam as idéias, além de assumirem que tinham mesmo essa preocupação de que as crianças saíssem do Jardim já lendo . A propósito, uma das nossas alunas novas tem 6 anos e veio até nós por que fora REPROVADA na escola em que estudou no ano passado. Os pais pareceram bastante encantados com a nossa proposta pedagógica para o Jardim e sairam da reunião bastante "mexidos" internamente; já estão, inclusive, marcando atendimento individualizado para que nós possamos auxiliá-los no trato com seus filhos no dia-a-dia.

(*) O autor é um criativo estudioso da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf; este é um relato de uma palestra proferida por ele, em abril de 2004, para pais de um Jardim de Infância Waldorf que ele está formando em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense . VWS.


Para desviar para a página de Pedagogia Waldorf, acione aqui.

Para desviar para o home page da Sociedade Antroposófica no Brasil, acione aqui.

Portuguese Dutch English French German Italian Spanish
© 2016 SAB - Sociedade Antroposófica no Brasil, desenvolvido por Contraste Studio